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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alguém me disse: surfa na onda, vai aí surfando na onda, porque um dia tu vai ser jogado pra fora dela, vai engolir muita água salgada, vai terminar se não souber nadar caindo além da rebentação, mas se for vai sem medo, vai porque é preciso, e me disse isso olhando nos olhos, dizendo aquilo com a garganta seca e travando, mesmo engolindo doses seguidas, a secura permaneceu enquanto ele me contava a história, a sua história, a minha história, quer dizer a história do todo mundo, aquilo de mesmo saber que não vai dar certo sempre, que a vida é cheia de idas e vindas, melhoras e pioras, jogos certos, cartas dadas na mesa, e outras vezes jogos truncados que só os outros ganham, só os outros tem o ás ou o rei ou a rainha que fazem ganhar, não sei, não tenho talento pro jogo, não sei distinguir minimamente certo quem é quem, meio como nos sentimentos, nos jogos, azar e em um sorte no outro? Não, tenho azar nos dois, não sei jogar nenhum dois, não sei as regras em nenhum deles. Regras: Pra que regras? As minhas consistem em duas; primeiro, não sei fazer dar certo, a segunda, sempre me fodo, legal, irrestritamente, compulsivamente, essa é a regra principal, ir sabendo que eu vou cair da prancha porque não tive aulas, só tive quedas dentro e fora, na areia e na água, mas eu te disse isso meu velho? Nem achei que deveria, tu tava contando a tua história com tanto ímpeto com tanta força que eu deixei que tu contasse tudo sem interromper, só concordando calma e friamente, só compartilhando o sentimento e a dose, as muitas doses, porque é o que resta como diz o velho safado, aquele nosso melhor tradutor, aquele que sabia dizer e dissecar tudo em que nós estava impregnado, mesmo com décadas de distancia, mares e terras alem, mas ta tudo lá, tudo mesmo, mas sem idolatrias, sem exageros, ele é o velho safado, não confundamos com esses melas cuecas de hoje e alguns de ontem, esses da modinha, porque saber tirar e mostrar as partes, os sofrimentos, era ele, com varias doses de vinho do porto, vinho barato, whisky, cerveja, o que seja, e ouvindo musica clássica, não, não era rock, não era punk, era musica clássica, por isso é tão singular e  meio porra louca, porque falar de vida e paixão é a mais escrota porra louquice que existe, não é o mesmo que falar das plantas e suas maneiras de realizar a fotossíntese ou os ventos dos norte, as chuvas, o efeito estufa, difícil é falar de sentimento, das correntes imaginárias que fazem qualquer e um e até um qualquer se jogar em medos, em desejos, em toques de um ser oposto a ele, é falar de clichês antigos e novos, coisas que vivem aí esperando serem vividas e contadas, e sentidas, expressadas, mas a gente sabe, tem um monte que sabe dizer dessas dores, desse amores, e agente vai copiando, vai trocando as palavras e colocando outras pra ficar mais crível aos nossos sentimentos, ao nosso outro, ao nosso mesmo, assim mesmo, porque sempre vai existir dois doidos bêbados sentados numas mesa, num calçada, no país que desejarem,  no país que estiverem, vai sempre existir esses dois amigos bêbados, tomando mais doses, um contando sua dor ao outro, em gritos, em sussurros, em doses, em olhares cúmplices de _ é verdade,  "o amor é um cão dos diabos”...

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